Olá meu povo, ando sumido daqui pois o trabalho tem exigido dedicação exclusiva, mas sempre penso no blog e da vontade de trazer uma informação a mais para quem o lê, pois, das trocas de informações nos formamos como seres pensantes.
Refletindo sobre as idéias de Domenico De Masi, sociólogo italiano e um dos mais conceituados e polêmicos teóricos das modernas relações entre o homem e o trabalho, me dei conta de que Dona Anita, minha saudosa avó, é que sabia das coisas. Eu já explico tudo isso.
Domenico De Masi defende a tese do "Ócio Criativo". Segundo ele, o ócio criativo, está associado à criatividade, à liberdade e a arte. As máquinas, por mais sofisticadas que sejam, não poderão substituir o homem nas atividades criativas. Desse modo, o futuro pertence àqueles que forem mais capazes de oferecer serviços do tipo intelectual, cientifico e artístico, adequados às necessidades variáveis e personalizadas dos consumidores.
Domenico me fez voltar à infância. Aos tempos em que eu ficava fascinado com o colorido das colchas produzidas pela minha avó, mãe e tias que depois dos afazeres domésticos se entregavam "ao ócio" e juntando retalhos teciam colchas de casal e solteiro que enfeitavam as nossas camas e muitas vezes engordavam o orçamento doméstico. Este foi o meu primeiro contato com o patchwork.
Sabe aquela colcha ou almofada que nos remetem ao colo, ao carinho, doçura e cuidados das nossas avós? Feitas de pedacinhos de tecido? Eis o patchwork: técnica que une tecidos com uma infinidade de formatos variados, e vem sendo aprimorada desde a Antiguidade.
Existem registros históricos de que o homem faz acolchoados desde que aprendeu a tecer. No século IX a.C., os faraós já usavam roupas com técnicas similares. Existe uma versão de que esta técnica foi levada por comerciantes para o antigo Oriente, depois viajou para a atual Alemanha, até que chegou à Inglaterra no século XI.
Os peregrinos, colonizadores dos Estados Unidos, que fugiam da Inglaterra devido a perseguição religiosa, levaram este artesanato para o Novo Mundo. Estes colonizadores eram muito rígidos e as mulheres eram incentivadas a fazer trabalhos manuais para que o “demônio” não tivesse espaço em suas mentes. Estas mulheres só tinham permissão para sair de casa em duas ocasiões, para ir a igreja ou para ir às reuniões de quilteiras (quilting bees).
Com a invenção da máquina de costura caseira em 1846, o patchwork e quilt passou a ser feito tanto à máquina quanto à mão. Após a segunda guerra mundial quando diversas mulheres foram trabalhar em indústrias e no comércio, houve um esquecimento do patchwork e quilt.
Na década de 70 houve um ressurgimento do patchwork e quilt, quando foram desenvolvidos diversos acessórios e instrumentos, como réguas e cortadores especiais, que, aliados ao uso da máquina de costura deram mais velocidade ao patchwork e quilt permitindo adaptar este trabalho manual ao ritmo de vida corrido do século 20 e 21. A indústria têxtil também passou a desenvolver estampas e cores especiais para o patchwork e quilt o que tornou infinita a paleta de cores e estampas tornando tecidos em uma espécie de tintas e os quilts em verdadeiras obras de arte. Por isso hoje em dia o patchwork e quilt é considerado mais que um artesanato, é considerado também uma arte.
E não é que Dona Anita, na sua casinha simples em Poções, estava antenada com as idéias defendidas do De Masi e que sacudiram a lógica capitalista moderna? Danada esta minha avó. Ela fazia patchwork. E foi da minha avó, da minha mãe e dos meus tios alfaiates que eu transformei meu oficio em prazer e dele vivo.
Dessa maneira, sinto que a minha arte, que para muitos é resultado do ócio, se enquadra perfeitamente nas ideias de Domenico. Fazer, criar, inventar e me sustentar com isso me dá a certeza de que fiz certo ao deixar as salas de aulas. Minha produção, exposta em lojas de São Paulo, Rio de Janeiro, Jericoacoara, Porto de Galinhas, Salvador e Porto Seguro só me fazem ter força para ir adiante.
Eis aqui o resultado da influência de Dona Anita e Dona Elza (avó e mãe) exposta para vocês: